terça-feira, 30 de março de 2010

Chuva

Chove imenso.
Em redor da minha janela,
Todas as outras estão fechadas
Só a minha está escancarada.

Apenas uma senhora
Na rua deserticamente inundada,
Caminhando como se nada fosse.
Chove menos agora...

A fresta permanece aberta.
Como eu gosto do cheiro desta janela!
Idilicamente inebriante este cheiro
De chuva caída recentemente.

Cada vez chove menos.
É uma pena,
Quem me dera que chovesse mais.

Coisas da vida

Um suspiro.
Uma flor que murcha lentamente,
Um olhar estático e impenetrável,
Um silêncio exótico.
Um café,
Um cigarro,
E um Mundo semelhante.
Uma vida,
Uma noite e uns copos...
Um grito que se solta,
Em sigilo absoluto,
Um nada e um tudo.
Um mar inteiro
De memórias passadas,
De futuros possíveis,
E uma alma.
Uma só alma.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Descanso

Estou triste...
Não sei porquê.
Estou chateado...
Não sei com quem.
Estou doente...
E não tenho doença alguma!
Sinto saudade...
Sem saber de quê ao certo.
Tenho sono...
E tenho porque sou humano.
Porque o pensamento não pára,
Porque esta dor não abranda,
Porque o tempo não espera,
Porque o descanso não se compra...
É uma necessidade,
(Exigências da própria vida).
E descansar é uma fase de preparação
Para voltar a usufruir da vida plena...
Ainda que a plenitude da vida
Não seja solidária com quem a vive.



Ainda assim,
A tristeza, a chatice,
A doença, a saudade
São reais,  intensas,
E destrutivas.
O descanso é apenas e só
Uma necessidade.

Um segundo basta

Deixa-me adormecer,
Deixa a madrugada visitar o meu sono
Deixa os meus sonhos caírem como folhas de Outono.
Deixa...

Deixa-me repousar
Deixa meu pensamento descansar
Deixa meu corpo dormir, deixa a minha alma sonhar.
Deixa...

Liberta-me um segundo,
Não peço o sol, não peço o Mundo...

Et cetera

É de forma reticente que encaro a vida,
E com reticências lhe dou uso
Rumo certo para um Mundo mais confuso
De caminhos por traçar e de muralha já erguida...


Tenho certeza de quase nada,
E tenho dúvidas acerca de quase tudo!
Por isto, deixo em aberto o conteúdo
Daquilo que me não agrada.


Sou feito de pensamento e sonhos breves
E com sonhos alimento a minha vida.
Pensar?Incomoda como insónia sofrida
Que me apaga os sonhos leves, tão leves...


As reticências são a minha essência natural,
Que me livram de sucumbir carbonizado
Pelas chamas do saber absoluto e unificado,
Que não passa de uma ambição supérflua e irracional.


De que valeria o Mundo inteiro
Se o Mundo soubesse toda a verdade?


A dúvida é sempre uma boa parceira...
E as retiências, uma feliz fatalidade.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Regresso

Esta melancolia assustadora,
Nesta fria noite de Março
Lembra-me coisas de outrora...
Momentos de puro cansaço.

Mudou tanta coisa entretanto
Mas, continuo a mesma mistificação
De névoa e fumo, o meu manto...
A minha mortalha de protecção.

Tinha saudades de falar comigo,
Há quanto tempo não me ouvia...
Deixei, por um tempo, de ser meu amigo
Esfumou-se, nessa altura, o que existia.

Uma sensação de vazio tremenda,
Uma solidão incalculável!
E esta pobre alma que não em emenda...
Sempre instável, sempre instável.