terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Tempo de viagem

Caminho por caminhos sinuosos
Sem sair do meu lugar
(Isto, se é que tenho um)
De olhos estupidamente abertos
E nada vislumbro,
Culpa do rasteiro sol matinal
Ainda coladinho ao ombro
Do monte velho...
Mesmo sem nada ver,
Sigo com o meu caminhar
(Seja qual for o destino, não importa).
                                        

  Respiro.

Caminho por caminhar,
Para não estar parado, imóvel...
Mas estou envolto em inércia pura,
Ligeiramente agitada pelos movimentos
De rotação e de translação
E pelas viagens do meu pensamento inquieto.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Amor?

Desprovido de bom senso,
Canto baixinho uma melodia
E ouço o Mundo.
Escrevo o Amor por extenso
O Amor nosso de cada dia
E, de alívio, respiro fundo.

Tenho um nó no pensamento,
Coisa rara, coisa rara.

(Escuridão)

O tal Amor alumia o momento
E, o Mundo nem repara.

Falta-me a certeza.
Mas que interessa?
É um Amor-surpresa
Sem pressas, sem pressa.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Perdição

Estou aqui hoje, frente a frente comigo
E, num suspiro enorme e doloroso
Mandei ralo abaixo a minha alma
Mas, no fundo estou semelhante...
Um cafezinho, um cigarrinho e a coisa vai!
(Ruídos, ruídos, ruídos da minha alma
A ranger que nem uma desalmada).
E com os olhos cansados do futuro
Assumo-me um caco roto.
Um cafezito e um cigarrito...
Hoje estou aqui e, é aqui que quero estar.
A vida sorri do lado de lá da vidraça,
E, eu sinto disponibilidade para um tête-à-tête.
Acho que continuo perdido na vastidão do nada,
Perdido de mim, perdido de ti.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Futuro?

Esvai-se num sorrizo largo e verdadeiro,
Um pensamento só meu.
(Suponho que seja só meu).
Sem esperar minimamente, apareceu
Um futuro todo em flor, desejando
Não sucumbir às adversidades do tempo,
E, chegar um dia a ser fruto da vontade do destino,
(Qual destino?)
Ou da vontade de outra coisa qualquer.
Em filosofia de café intorrogo-me...
Qual é a coisa, qual é ela
Que apareceu e é tão bela?
Problema filosófico de café
Sem solução á vista, por enquanto...

Ser ou Não Ser?

Nem sempre sou o que sou realmente,
Tenho de admitir com vergonha
Sou por vezes, algo que sonha
Em deixar, mesmo até, de ser gente.

Reflexão Breve

Conta-me uma história bonita,
Que hoje tudo me corre mal
(Penso eu).
Sinto a cabeça a latejar,
Como se não dormisse à 34 horas.
Paira sobe o meu pensamento
Uma névoa, uma bruma perigosamente cerrada.
(Acabei por ser eu a contar história nenhuma,
Quanto mais bonita...)
Ardem-me os olhos!
(Efeito secundário desta claridade artificial
Que alumia esta minha noite trajada de escuridão).
Estava prestes a sufocar,
De tão cheio destas coisas que me invadiram
Este peito desatento...
Livro-me da inocência, pois,
Como todos os culpados, eu penso!
A noite canta agora uma vertiginosa composição musical.
Volto a pedir-te um favor,
Carregado de importância de tão
Insignificante que aparenta tal pedido.
Espera-me do outro lado da ponte
Que não acaba...
Não sei onde nos levará,
Mas que interessa isso?
Espera-me lá, se eu não chegar primeiro.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Hoje

Que maçada
Tenho tanto para ser hoje
Mas, a alma encolhe-se e foge...
Acabo por não ser nada.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

É bom sentir-me e ser mais do que tudo aquilo que sou.

Pena

Tenho pena de mim.
Pena,
Por ter sentido o amor verdadeiro,
E, não ter tido cordas para o amarrar,
Nem algemas para o prender.
Deixei-o escapulir-se
Por entre os meus dedos frágeis,
Amor esse que não volta mais.
Ai se o arrependimento fosse carrasco...
Mas a vida segue, atribulada.
Faltas-me por vezes.
O teu ombro amigo,
O teu ouvido atento de outrora,
Deixam saudade.
Companheira de mil horas(ou mais)!
Faltas-me por vezes,
E eu, tenho pena de mim.
Sinto falta de Amor.
Estou carente
Daquele beijo matinal que despercebidamente
Me arrebatava o coração desatento.
Aquelas manhãs proíbidas,
Submersas num sigilo absoluto
(Com que tanto sonhei),
Sucumbiram num segundo.
Onde estão os sonhos?
E as promessas?
Desilusão.
Sinto falta de ti, talvez...
Sinto realmente a falta
Do Amor que me despertava de manhã,
Que me brindava com insónia de noite.
Sinto falta daquele beijo molhado
Pelas gotas divinas de uma chuva Santa!
Nem sei sequer se te perdi...
Mas já sinto falta de Amor.

Batalhas perdidas

Deserto.
Esta areia movediça
Que me suga o futuro
Para um local inerte,
Atormenta-me.
Circula-me numa torrente avassaladora
O sentimento de querer ser
Acordado com um balde de água gélida,
Abanado com um tremor de terra
(De magnitude impossivel),
de ser esbofeteado com a dura realidade...
Pois durmo um sono impermeável a sonhos,
Raiado apenas pelos gigantescos pesadelos
Que me abafam a respiração,
Que me elevam o batimento cardíaco,
Que me assustam quase de Morte!
Quem me dera que o Sol
Se erga bem alto e me acorde
Com um raio suavemente incomodativo,
Mas que me acorde...
Este sono pesado
Incomoda mais do que andar a chuva,
Mais até do que o facto de ter perdido
Outra batalha da mesma Guerra...
É sempre a mesma Guerra!

sábado, 20 de junho de 2009

Apontamento

As horas desvanecem-se em segundos,
O último suspiro esvai-se num momento,
A felicidade e a liberdade dançam
Alegremente como se o passado fosse apenas
Uma pedra num caminho longo.
Este coraçãozinho acalma-se,
(Descança coração, descança que mereces).
A fusão sublime do dia com a noite,
Apenas veio enaltecer este sentimento,
Esta espécie rara de quase-extase.
Agradável.
A noite caiu agradável,
E aquele cheirinho a Verão impregnou-se no meu olfacto
Deixando um rasto de satisfação.
Agora, contento-me com a brisa leve que me toca,
Subtilmente, o rosto escuro de barba de 7 dias,
Como que se de amor se tratasse...
As luzes escassas desta aldeia deserta,
Iluminam quanto basta.
E eu vivo!

terça-feira, 16 de junho de 2009

Sorriso

Tinha um sorriso,
Mas não sabia dele...
Andava perdido!
Vida só tenho esta.
Sorriso só tenho aquele.
Juntando os dois, tenho o que quero!
Tenho o amor de quem realmente me ama
E basta-me por agora.
Quero sorrir...
Esquecer o passado que lá vai,
Dar outro passo em frente,
Mais um passo em frente.
Sofrer não é solução,
Nunca será...
E por morrer uma andorinha,
Não acaba a Primavera.
Não é verdade?

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Quase-Vida

Pelas entranhas expostas,
Corre o sangue da minha desgraça,
Corre um tempo que não passa,
Corre um destino que me enlaça.

De uma respiraçao ofegante em meu ouvido,
Sai uma palavra que se não escreve,
Sai uma história que não se vive,
E não sai nado do que deve!

Desta quase-vida que hoje tenho,
Nada mais tenho a acrescentar,
Basta ler e divagar.

Caminhos

Há sempre mais que um caminho,
Quando se quer caminhar.

Liberdade aos 21

Sem pedir licença,
Invadiu a minha vida
Um regimento inteiro
De Capitães de Abril
Declarando o fim da opressão e da censura,
Gritando:Liberdade!
Eu nada pedi...
Fui um peão desta revolta
Que não volta,
Que não volta.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Contra-senso

Vou emergindo lentamente,
(A minha vida é esta noite.)
Não há pressa de espécie alguma.
Extremo, este estado de ansiedade...
Estranha, esta calmaria em meu redor.
Saudades do passado afundam-me
Novamente, numa nostalgia já tardia...
Envolvem-me cores, sons, cheiros,
Que sem estarem presentes,
Me ressuscitam algo.
Subitamente, sou-me de novo!
Ser-me é uma tarefa complexa e desgastante,
Penso (nem sempre existo) eu.
E, todas esta palavras para apenas dizer
Que sofro mais do que posso.
Todas esta dores e inquietações
Que me corroem, que me corrompem,
Que me debilitam, que me extinguem,
São , no fundo, a minha vida.

Desejos

Quem me dera ser dono de mim,
Poder controlar-me sem esforço.
Poder dizer ao mundo que não o ouço,
Poder dizer que não me agrada assim...

Estou preso por menos de um fio.
Nem consigo pensar com clareza,
É esta fúria, este silêncio, esta tristeza...
Que me obrigam a suportar este frio.

Quero chorar lágrimas verdadeiras,
Não estas coisas contrafeitas,
Estas lágrimas enxutas.

Quero chorar as minhas dores inteiras,
Desfazer-me de todas as maleitas.
Mas, como se ganha a guerra perdendo as lutas?

Cansaço

Cansado disto que pareço ser,
Escuto-me com alguma atenção
Percepciono um intermitente coração
Que é meu e que me deixa sofrer.

Visita-me a melancolia do momento,
E a tristeza e a solidão de tantos dias,
Sentam-se à minha beira agonias,
Chega a dor, completa-se o elenco.

Não falta cenário em volta de mim,
Abraça-se a mim, Com força, o argumento,
Gritam: Acção! E eu desatento,
Permito-me ser o príncipio do meu fim.

A crítica chama-lhe drama
Eu nem sou capaz de o classificar.
Chega a faltar-me o ar,
Tanta é a tristeza que me ama...

É pequena a minha alma de hoje.
A película não é realizável,
O actor principal é muito instável.
Tudo me abandona, tudo me foge...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Luto

Num faz de conta astuto,
Fingo a minha alegria.
(Mas, na verdade, é de luto
Que visto o meu dia-a-dia)

A vida é para os vivos

A vida é para os vivos.
Conheço-me morto em espirito,
Morto em esperanças...
Que quererá esta vida deste eu?

Falta-me já a vontade de lutar,
De dar o sangue e o suor...
Em vez disso, redimo-me
E levanto a bandeira branca.

Fraco o espírito que em mim habita!
Pudesse eu trocá-lo, era o que faria,
Só me traz prejuizo avultado...
E ainda tenho que lhe dar de comer.

Dia normal

Dia normal.
O sol já vai alto,
Continua em mim o frio,
Aquele frio de madrugada,
Inquietante,
Quase aterrador!
Continuo incolor,
Secundário (como ontem),
Invisivel (como a muito tempo),
Mas, permaneço em mim.
O mundo muda,
Avança, recua,
Movimenta-se, manifesta-se...
Quanto a mim?
Inércia pura e dura!
Não me considero nada,
Mas, o pouco de mim
Que terá alguma consideração,
Não tem qualquer significado.
Vou-me levantar um dia destes...

Sucintamente

Ser poeta é ser livre,
É ter no sangue inspiração,
É ter garra e força de leão,
É ter na alma alto calibre!

É procurar sempre a perfeição,
É correr contra o vento, por vontade,
É escrever com caneta cor-de-amizade,
É pensar com cabeça e coração!

É lapidar diamantes em papel,
É procurar na esuridão a intensa luz,
É ver com igualdade o tom de pele!

Ser poeta é encarar a vida a sorrir,
E carregar, com alegria toda a cruz
Sabendo que chegará a hora de partir!

Versejador doentio

Ah! Como é triste ser poeta...
É ter sido dia e agora noite
Porque em desabafo, escrevo o que sentia,
O que me escureceu a alma, agora preta.

É sentir ao mesmo tempo tristeza e alegria,
Dom de manter a calma sofrendo tanto,
Cobrir de branca luz o negro manto
Que aconchegou o mal de que eu padecia.

De tristeza sofro por não ser compreendido,
Mas contenta-me escrever, mesmo sofrendo.
Facilidade em encontrar mesmo nao tendo

Essa veia cujo funcionamento não entendo.
Mas, acto e verbo que me é tão querido,
Como pode parecer não ter sentido?

Morte

Tu és a única certeza,
Do futuro incerto que me espera...
Tu derretes corações feitos de cera,
És chama que arde com destreza!

Resolves o assunto com clareza,
Chamas de inconsciente o dom da Vida...
Não podes de algum modo ser vencida,
Dominas facilmente qualquer preza!

És senhora de tudo quanto existe!
Esclareces muito bem a tua verdade,
Perante ti, nada que viva resiste...

Roubas sem dó nem piedade toda a sorte!
Semeias nos corações muita saudade...
Todos te conhecem, chamam-te Morte!

Homem Invisível

Quero sair, algo impede.
Fecham-se portas e janelas,
Chove cá dentro, ainda que pouco...
Passa uma estranha melodia na rádio
E, no fundo de mim,
Só escuto silenciosos desesperos,
E, suspiros profundos.
Ninguem repara,
Sou o Homem Invisivel
Que carrega dentro da alma
Coisas que os olhos não vêm,
Coisas que o coraçao não sente,
Coisas desagradáveis,
Coisas minhas.
E, as portas estão trancadas,
Quem me dera saber da chave.

Desilusões

No rosto largo e enrrugado,
Vejo um traço de desilusão
Por pensar que foi em vão
Tudo o que havia aconselhado!

Sonhou com um futuro diferente
Para o rebento que gerou
Mas, descobriu o pior e chorou...
A mágoa dói mas não é gente!

Laços criados durante tanto tempo
Foram destruídos pela bomba...
O que está de pé também tomba!

A confiança voou com o vento
Mas o amor de Mãe permaneceu
E a tal mágoa adormeceu...

Monstros

Tenho bichos que me mordem
Todo o santo dia.
Tanto me atormentam, os malvados.

Tenho fantasmas que me assustam,
Toda a santa noite.
Quem me dera nem adormecer...

Tenho monstros que me obrigam a escrever
Todo o dia e toda a noite.
O que vale é que nem sempre obedeço.

Estou vivo sim!
Mas nem dou conta,
Pois tal é a afronta
Que me põe assim.

Quero falar,
Quero pensar,
Quero respirar,
Quero parecer,
Quero ser,
Quero viver,

Mas acho que não consigo,
Tal é o exército
De bichos,
De fantasmas,
De monstros,
Que vive dentro de mim
E me rodeia.

Minhas velas

As minhas velas,
Ardem até ao fim do pavio,
Até acabar a cera,
Até se esgotar o oxigénio...
Há quem as consiga apagar.
(Não as minhas!)
Gabo-lhes a coragem e a desfaçatez.
Tenho luzinhas acesas que cintilam...
Tem aspecto de um céu estrelado
Só que não é céu.
Tomara que se extingam algumas,
Caso contrário, nem dormir conseguirei.

Espaço

Cabem dentro de mim tantos versos,
Não sei se será bom presságio.
Foi como que um naufrágio
Que os deixou assim dispersos.

Neste mar imenso que sou eu,
A minha caravela calma
Zarpou, e nesse dia a minha alma,
Naufragou e nem doeu.

Perda

Perdi uma vida,
Perdi uma alma...
Morreste-me!
Desolado é o sentimento
General de um exército imenso.
Sete palmos de terra
Escondem tantas coisas,
E, deixam a descoberto outras tantas...
Tenho tanta tristeza dentro de mim,
Não fazia ideia que cabia
Tanto aqui dentro...
Morreste-me.

Constante da vida

O tempo parece estagnado,
As recordaçõpes vão e voltam,
Há lágrimas que se soltam,
Ouve-se um grito calado.

Procura-se desaparecida!
Num instante a esperança perece,
Lição esta que se não esquece,
A Morte é uma constante da vida.

Surreal

Estranha visão
(Quase surreal!)
Crescem árvores
Por cima dos meus telhados,
Um pomar inteiro.
Mas, da fruta,
Nem uma peça se aproveita.

Hoje

Hoje, sou o que sou hoje,
Quem sabe se o serei amanhã...
Talvez ate me perca
Nas tão vastas encruzilhadas
Que tanto nos atormentam.
Aproveito o momento
(De tristeza, solidão e nostalgia, claro!)
propício a estas coisas fúteis
Desprovidas de qualquer falso altruismo...
E deixo ser-me eu mesmo,
O escritor errante de hoje
E adormeço.

Horas negras

Olho-me ao espelho de frente,
Vejo-me num abismo profundo
Negro, imenso e imundo...
Parece-me que o espelho nao mente.

É noite lá fora na rua,
Cá dentro, apenas escuridão
Nem imagino que horas serão.
Sei que o tempo nao atenua.

Este meu estado de desgraça,
Esta vida que mal seguro.
Quem me dera melhor futuro.
E esta hora que nao passa...

(Há tanto tempo que nao chovia!)
Queria ser quem não sou,
Queria estar onde não estou,
Queria não dizer que queria...

E, estou assim eu.
Fruto de mim, infelizmente.
O meu coraçao nem se sente,
Se calhar nunca bateu...

Fugas

Vejo a hora passar
À minha beira.
Sinto que os dias me fogem,
Que os anos não me perdoam,
E, quero sair.
Escuridão imensa (dentro de mim),
Voltei ao negro
Quero fugir.
Quero correr em frente,
Estrada aberta,
Mas, estou cada dia que passa,
Mais fraco,
Mais incapaz,
Mais indefeso,
Mais aterrorizado,
Mais inútil.
Em suma,
Cada dia que amanhece,
Estou menos vivo que no anterior.
No entanto estou vivo,
Quase morto de essência,
Mas vivo.

Dúvida existencial

Será?
De repente surgi de novo
Ainda envolta em nevoeiro,
(Meio cerrado)
E, coberto de pó já antigo?
Perplexo, habituo-me
Lentamente,
A esta luz vaga
E descontínua.
Perdi a memória,
Foram tantos os quilómetros
Que percorri...
Imóvel com quase sempre.
Voam coisas, tantas coisas,
Que sinto ligeiros laivos de felicidade
Rasparem suavemente a vidraça
Implorando pela minha companhia.
Reflexo (ainda sujo) do que fui
Tantos dias, intermitentemente.
Recordo-me, ofereço um sorriso.
Um sorriso contido e cauteloso
A uma velha amiga que o merece,
E, perto da exaustão,
Perco-me.
Encontrar-me-ei um dia?
Quem sabe um dia...

Efémero

Efémero,
O bater do meu coração que
Solenemente aguarda uma hora
Que tarda em aparecer,
Hora incerta.
Neste pôr-do-sol encantado,
Vestido de laranja e encarnado,
Debruço-me para lá de mim
E, o que vejo é
Espuma branca, areia fina,
Porto de abrigo
Sem abrigo.
O cheiro, a cor, o sentimento...
Afogam-me a alma por dentro,
Fazem de mim o que sou
Um mendigo.
Não peço para mim,
Mas por mim que pouco valho.
Do pouco se cria, e,
Em nada padece,
Memórias que o futuro esquece.
E sou poeta, e sou humano,
Porque tanto amo
A quem me nao ama agora?
Tanto amor que transborda para fora,
Claro.
E sou poeta por vezes...
Quem sabe?

Qualquer coisa

Há qualquer coisa que,
Em mim chora,
Quase ininterruptamente
Como se o choro fosse semente
De uma nove hora.

Há qualquer coisa que,
Nesta mágoa me afunda,
Quase propositadamente
Como se eu fosse gente
De segunda.

O mundo cai

O mundo cai devagar,
Nem todos o vemos cair,
Vêm mais os cegos a sentir
Do que o resto a enxergar.

Os vícios cegam a vista sã
E o cérebro apenas obedece.
O corpo padece, a alma arrefece,
A vida escurece pagã!

A cabeça manda, é capataz.
O corpo obedece sem questionar,
E o mundo cai devagar...
A cabeça sabe, mas, nada faz.

É o Homem que faz o mundo tombar...
(Não o puro, esse não existe.)
O Homem no qual o vício resiste
E não o permite enxergar.